17 mai 2006

Cronicas do Viajante Amargurado - 1984.


Lembro-me como se fosse hoje. Os gelados com a cabeça do Dartacão ( sabor a baunilha) nas praias do outro lado da ponte. Transportado naquele carro cor de laranja feito de fibra e plastico, com uma capota de lona. Vagueava pela praia à procura da senhora dos bolos. Eram enormes, aqueles bolos. Dispostos numa espécie de disco voador, com a base em verde inglês e a tampa de plastico, muito baço.
Adorava o homem dos gelados. Roupas a condizer com aquela mala térmica. Tudo muito alvo, talvez para não se queixar da temperatura do sol da caparica. Mas o mais importante, o que o senhor trazia na mala termica: o troféu. O gelado do Dartacão. Passara provavelmene uns bons vinte minutos a ver mais um episodio da série espanhola poucas horas antes de sairmos para a praia.
O refrão do genérico nunca fora traduzido e isso confundia-me. Esperava horas olhando para a Grundig decorada a madeira, depois de ouvir o hino de abertura da RTP. Acho que nessa época, a emissão parava algumas horas durante a tarde. Como se os trabalhadores podessem descansar. Aquela cabeça de cão com um chapéu de mosqueteiro reservava-me uma surpresa que ja conhecia. Mas que vivia sempre como se fosse a primeira vez. Deveria custar 35 escudos, aquele gelado Que bela época!
As viagens pela ponte vermelha faziam-se com o radio de fundo. Os Herois do Mar falavam do amor e do primeiro beijo. Eu ainda não tinha dado o meu, mas gostava daquelas vozes.
Pronuncio de praia e de sol. A imensidão da areia convidava-me a fugir. Deixava que me esquecesse de mim, como a canção da Lena d’àgua. Tinha umas pas de plastico e uns baldes. Roia maçãs (mas preferia vezes mil o sabor abaunilhado do Dartacão). Quando me aventurava pelo mar (media 40cm), chegava a afogar-me nas ondas. Fui salvo por conhecidos e desconhecidos. Passava depois alguns minutos na minha toalha amarela a tentar livrar-me do gosto salgado de alguns golos de àgua que o mar me forçara a beber, como se me quisesse dar uma lição. Momentos antitéticos aos do ritual do famoso gelado. Cheguei a comer areia. Perdi os meus carrinhos e nunca mais os voltei a ver. Se os carrinhos dessem fruto, não haveria praias na margem sul. So florestas de carrinhos e talvez algumas pas. Lembro-me da nossa gata, que se escondia cada vez que chegava a casa. Era terrivel. Como se dizia la em casa, “a gata faz-nos esperas”. Era o inicio dos dias de Verão.



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