
Uma pessoa acha sempre que deve produzir. Que não deve permanecer inactiva. Eu sinto-me incapaz de existir sem produzir. Por isso, sempre que não tenho uma ocupação institucionalmente aceitavel, ou seja, sempre, encontro na neurose um passa-tempo altamente eficaz no que respeita à capacidade de queimar o tempo. De certeza que o senhor leitor ja teve dias como esses. O simples acordar deve à madrugada um forte exercicio de concentração, às vezes forçado por passaros agressivos, fruto de uma inadaptação ao meio urbano. Refiro-me, claro esta, a indecentes gaivotas na baia de uma vila estranha ou de aves inidentificaveis perto do rio Sena. Fora status social de cada um dos voadores ou o exotismo que a sua existencia possa pressupor, são seres de uma crueldade e malvadez crua. A sua pura e simples eliminação fisica é, a meu ver, justificadamente desejavel por varios cidadaos de bem das nossas comunidades um pouco por toda a União. Ainda assim, a gente levanta-se, porque ha que produzir.
Mas não é so o nascer do dia que nos obriga a produzir. O entrar numa instituição altamente valorizada pelos individuos de uma determina
da cidade também tem a capacidade de nos fazer
sentir inuteis. Em França, tal como em Portugal, essa maquina monstruosa, grande e contradictoriamente invisivel à qual chamamos Administração, alimenta entre os individuos um forte sentimento de desprezo e de frustração permanente. Entre as proprias pessoas e por parte das pessoas face a dito aparelho. Longe de prosseguir nestas linhas com um discurso individualista da flexibilidade, gostaria de deixar presente o desejo de muitos dos que produzem, como eu proprio, de ver mudanças profundas nos escritorios e departamentos daqueles que carimbam os nossos papéis. Talvez devessem ser mais... productivos? Seja como for, eficazes ou não, essas portas cheias de terminologias não ajudam. Um leitor, você, eu proprio, sentimo-nos inuteis.Sempre que posso, escrevo cinco linhas. Sao elas como pequenas drageias. Açucaradas, medias no tamanho, de um sabor àtono. Adaptadas ao que o sociologo Zigmunt Baumman caracteriza como a sociedade liquida que nos rodeia. Curiosamente, ao escrever, activo o efeito suporifico semelhante ao de uma dessas drageias. Ao escrever, tento que estas linhas se tornen também as suas Drageias, senhor leitor. Porque como dissera um dia Anita, a fadista, cantar sem povo nao é cantar. Ora, Anita nao tem a estaleca intelectual de Zigmunt, mas de povos sabe ela. Assim, deixo ao senhor leitor na paz da escrita. Tenho entendido que, para aquelas almas inquietas às que a leitura nao consegue reter, é dos melhores remédios depois dos rebuçados
Mas não é so o nascer do dia que nos obriga a produzir. O entrar numa instituição altamente valorizada pelos individuos de uma determina

sentir inuteis. Em França, tal como em Portugal, essa maquina monstruosa, grande e contradictoriamente invisivel à qual chamamos Administração, alimenta entre os individuos um forte sentimento de desprezo e de frustração permanente. Entre as proprias pessoas e por parte das pessoas face a dito aparelho. Longe de prosseguir nestas linhas com um discurso individualista da flexibilidade, gostaria de deixar presente o desejo de muitos dos que produzem, como eu proprio, de ver mudanças profundas nos escritorios e departamentos daqueles que carimbam os nossos papéis. Talvez devessem ser mais... productivos? Seja como for, eficazes ou não, essas portas cheias de terminologias não ajudam. Um leitor, você, eu proprio, sentimo-nos inuteis.Sempre que posso, escrevo cinco linhas. Sao elas como pequenas drageias. Açucaradas, medias no tamanho, de um sabor àtono. Adaptadas ao que o sociologo Zigmunt Baumman caracteriza como a sociedade liquida que nos rodeia. Curiosamente, ao escrever, activo o efeito suporifico semelhante ao de uma dessas drageias. Ao escrever, tento que estas linhas se tornen também as suas Drageias, senhor leitor. Porque como dissera um dia Anita, a fadista, cantar sem povo nao é cantar. Ora, Anita nao tem a estaleca intelectual de Zigmunt, mas de povos sabe ela. Assim, deixo ao senhor leitor na paz da escrita. Tenho entendido que, para aquelas almas inquietas às que a leitura nao consegue reter, é dos melhores remédios depois dos rebuçados
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