11 mai 2006

Vertigem

A imagem de tantas pessoas passa-me pela cabeça tão depressa quanto me é possivel. Deixo que entrem todas essas figuras conicas, cuneiformes, delgadas, achatadas, multiformes, todas elas carnicas. Assim deslizam as silhuetas que compoem os laços de minha memoria. Assim sigo com as ebolições mentais que me abanam ao longo da espinha. Como uma vertigem, explodem na linha vazia do meu olhar particulas de emoçoes perdidas, que se despem de ambições à medida que recuperam o vazio. Eu recupero a focagem dos meus olhos, defendendo-me de todos os movimentos urbanos. Como uma lufada de ar urbano, os movimentos dos outros traçam o meu caminho. Hoje, caminhar pelas ruas não é mais do que uma defesa contra esse buraco branco, agora um pouco menos maldito, que é a casa de todos os momentos. Existem muitas opções. Dentro da promessa desse eterno retorno, posso fugir para a frente até esgotar os recursos. Posso entrar pela outra porta e domir ou transparecer simplesmente no ébano da descrição. Posso ainda comer. Posso gastar. É uma espécie de vertigem alucinogénica que me ataca sem que possa defender-me. Os meus olhos pedem mais e não sei como responder. As pernas confessam-se partidarias da vertigem e de seus desejos inmutaveis, as mãos ha muito que deixaram de comandar suas vontades e se voltaram escravas do apetite.
Serpentear pelo betão torna-se mais dificil com a chegada dos outros em busca da luz. Assim, respiro lentamente com o objectivo de controlar a vertigem. Tudo em vão. Peço ainda ajuda, mas não estou muito interessado em ser Gabriel nem David da minha carne. É assim que, paulatinamente, inscrevo a determinação sempre a zero nos caminhos menos predicados. Um gasto de virtude, dessa qualidade por tantos anunciada, que se entrega ao capricho momentâneo.

É como um diapositivo. Como se a cada emoção relacionada com o conflicto de cada individuo lhe podesse adicionar um som, um nome. E esse desfile torturador continua incessante na sua cadência esquematica. Como um antidoto para a paz. Depois é a vez de pequenas ondas conflictivas que se interpõem, formando espirais de som que so eu posso ouvir, muito para meu desgosto. Uma bomba. Necessitava de uma bomba de açucar, cheia de coisas boas, nas que os perfumes frutais adormecem o fel. De uma beleza assassina e de uma eficacia tão contemporanea que parece desenhada por quem ja me viu.
Em todos estes momentos esta comigo o vector do tempo, que, por mais que lhe dê voltas, consegue sempre levar a melhor. É como um velho vencedor. Sempre com a razão, seductor o suficiente para que um caia nas suas artimanhas. Olvidar suas victorias é inscrever a neurose da busca do momento melhor e afogar as vontades num liquido espesso que se chama frutração. Deixo-o de lado. A pesar de que esteja ele sempre a meu lado. Quer queira, quer não.

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