
A partir do momento em que se trabalha para o grande media nacional francês ( o que não é em absoluto o meu caso ) ou um midia, como diria a Fatima Campos Ferreira, é importante preocupar-se pela suburbia. A famosa banlieue, termo ecoado até à exaustão durante as três ultimas décadas no Hexagono, apos o que alguns historiadores, sociologos e politologos chamaram de les treinte glorieuses - os trinta anos de crescimento economico que se seguiram à Segunda Grande Guerra.
Devemos conhecer muito bem esses trinta anitos, pois viemos aqui construir casas, lavar, conduzir taxis e camiões, abir portas e tomar conta dos edificios que não construimos. Esses onde trabalhavam as nossas primas, tias, mães tinham sido idealizados por Haussmann.
Mas onde iamos? Ah!... a famosa banlieue, que tantos estrangeiros acolheu, constituiu um melting pot à la française. Os europeus, por razões culturais ( pensamos nos ) integraram-se mais facilmente, acedendo aos mecanismos de promoção social, ao ensino, ao emprego - italianos, espanhois e portugueses. Quanto aos extra-comunitarios ( porque não se deve dizer arabes nem negros ) a coisa foi bem menos doce. Hoje mesmo, na France 2, o jornal das 20 horas mostrava a cara de desalento de um rapazola de 20 anos, negro, tão francês como o Camembert, falando de Paris como se estivesse onde deveria ter nascido o seu pai. Em suma,longe. Queixar-se de péssimos estagios é pertinente, os salarios do McDo deixam a desejar, mas... não receber respostas a envios de um CV porque se é preto, deveria estar mais do que passado de moda no Pais da Revolution. O rapaz continua: " antes era porque morava no Neuf-Trois ( departamento francês de Seine-Saint-Denis ) , agora é porque venho de Clichy-sous-Bois que ainda por cima, fica no 9-3".
O entrevistado mora numa zona a nordeste de Paris, onde os prédios destinados outrora a acolher operarios, em numero crescente para uma industria que crescia de igual maneira. As HLM, agora mais fora de moda que a discriminação urbana, impor-se durante o percurso que faz o turista ao chegar a Roissy, tomando o RER B com destino à cidade-luz.
São ambientes como esse, com rapazes como este, nascidos na machine à integrer que é a promessa do ensino publico republicano, que o Ministro da Administração Interna e candidato provavel da direita à Presidência, Nicolas Sarkozy, prometeu limpar com um Karscher ( uma maquina utilizada, em bom português, para limpar a porcaria ). Depois, aventurou-se um pouco mais ao repetir ar palavras de uma senhora em furia contra manifestantes desagradados pela sua presença ( do Ministro ), perguntando-lhe se esta tinha vontade de ver-se livre daquela racaille ( escumalha em francês ). Os carros ardem quase todas as semanas, mas ha um ano, parecia que Paris poderia vir a ser tomada de assalto por uma nova geração de 68kids, estes não desejando o fim do sistema capitalista, mas sim trabalhar. Uma espécie de deixem-nos trabalhar, se quiserem.
Protestavam também pela morte sem razão de dois miudos, mortos por descarga electrica quando fugiam da policia. Desde então, segundo os jornais, as agressões à policia aumentaram. A tensão social continua.

Desde ha um ano ( mês choque para quem se veio instalar no pais de Zola, Sartre, Flaubert e pelos vistos de Sarkozy - mas nunca dequele jovem desempregado ), pouca coisa mudou. Agora c'est dans l'air ( estão na moda ) as reportagens sobre o que mudou e o que não mudou. Hoje mesmo, podemos disfrutar da mudança... das caixas de correio num desses prédios cinzentos com mil andares e pouca coisa à volta. Ja todos têm caixas de correio. Boa! Amanhã, buga la ver se têm um empreguito ou dois, de preferência daquelas pouco flexiveis... Isto, senhor leitor, é puro Hexagonismo!
Também se pôs na moda andar a cuscuvilhar os blogues da malta dos suburbios. Os mais incendiarios ( nunca melhor dito ) foram eliminados pelo sistema ( nunca melhor dito ). Outros, bastante interessantes, parecem ser a melhor cronica e mais legitima, da vida do outro lado da cortina. Aqui ficam alguns exemplos.
No Hexagono.
2 commentaires:
:)
Nem mais!
Já vi que tenho de aparecer mais mais amiúde. Continua a escrever!
Abraços
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