26 novembre 2006

Mario Cesariny.


Voz numa pedra

Não adoro o passado

não sou três vezes mestre

não combinei nada com as furnas

não é para isso que eu cá ando

decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz

decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João

nenhuma nenhuma palavra está completa

nem mesmo em alemão que as tem tão grandes

assim também eu nunca te direi o que sei

a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada

sei muito bem que soube sempre umas coisas

que isso pesa

que lanço os turbilhões e vejo o arco íris

acreditando ser ele o agente supremodo coração do mundo

vaso de liberdade expurgada do menstruorosa viva diante dos nossos olhos

Ainda longe longe essa cidade futura

onde «a poesia não mais ritmará a acção

porque caminhará adiante dela»

Os pregadores de morte vão acabar?

Os segadores do amor vão acabar?

A tortura dos olhos vai acabar?

Passa-me então aquele canivete

porque há imenso que começar a podar

passa não me olhas como se olha um bruxo

detentor do milagre da verdadea

machadada e o propósito de não sacrificar-se não

construirão ao sol coisa nenhuma

nada está escrito afinal


Mário Cesariny


No Hexagono.

1 commentaire:

Custódia C. a dit…

E o poeta, pintor, partiu de mansinho ...