26 juin 2006

Cronicas do Viajante Amargurado - Coiffeur B.


Entro na loja. Olho à minha volta e vejo um grupo de jovens estilistas. Devem sê-lo porque levam tesouras suficientes para fazer uma revolução cultural na cidade. Cada um deles tem, pelo menos, cinco tesouras distintas. Algumas facas, navalhas ou simples armas brancas para que venham la da banlieue mais calmamente, porque isto do Sarkozy faz medo até aos pombos. Aproxima-se um estilista.
- Bom Dia! Magro, alto, sem cabelo, grave, simpatico quanto baste.
- Era para cortar o cabelo. Mas gostaria de fazer um corte com um stylist manager. Sabe, queria fazer algo novo.
Como ele é jovem, suponho que não sera um stylist manager, mas sim um young stylist. Confio nos mais velhos, como me ensinaram em pequeno e insisto em que me corte o cabelo um stylist manager. Tudo o que faço é seguir a terminologia do establecimento em causa. Até têm descontos para estudante, por isso devem ser uma cadeia de cabeleireiros muito séria.
- Proponho-lhe os meus serviços! Posso fazer um corte de stylist manager, sabe? Assim podemos faze-lo ja e tudo.
- Mas assim estou a pagar um serviço e estou a receber outro, não é? Quero dizer...
Acho que ele não ficou demasiado satisfeito com a minha sinceridade cortante e disse que me marcaria um dia para um stylish manager, mas que não poderia ser antes de terça-feira (mentiroso!). Tudo isto aconteceu sabado passado e hoje, segunda-feira, investi pela segunda vez contra os salões Coiffirst de Paris. La estava ele lavando o cabelo de uma cliente. Aproveitei que estava ocupado e deram-me hora para as quatro ( havia stylist manager para antes de terça-feira! ). Volto duas horas depois e começa o ritual do costume.
- Salut! Comment ça va? Sou a stylist manager.
Devem ter percebido que isto dos titulos para mim ainda conta. Esta jovem tinha menos tesouras. Talvez aqui funcione ao contrario do exército. Quantas menos tesouras tenha o estilista, mais capacitado é. Sim, talvez seja isso. Fui assistido por outra jovem (sem titulo) que me lavou a cabeça de uma forma muito estranha. Por momentos pensei que teria perdido os sentidos ou uma paralesia parcial, porque parou de esfregar e deslizava aqueles dedinhos orientais pela minha cabeça cada vinte segundos. Depois percebi tudo. Era uma massagem de stylist manager!!
Fui então convidado a sentar-me numa daquelas cadeiras de avião antigas, cheias de estilo. Senti que se havia alguém sem estilo naquele lugar, era eu. Que cafona sou, meu deus. Depois de explicar como queria que me cortassem o cabelo, imaginando aquele belo corte de 1999 em Lisboa, percebi finalmente que a culpa não era de Madrid, nem de Paris, nem do senhor Jorge. É que esse corte que me agradara tanto foi um simples acidente ou um singular momento de inspiração e mesmo de justiça que atingira o senhor Jorge naquela tarde de setembro. Jamais conseguirei repetir esse corte, mesmo que gaste mais de vinte euros, como hoje ( para mim, vinte euros por um corte de cabelo é muito dinheiro, senhor leitor.)
Gostei especialmente da parte em que olhou para o meu cabelo, como so um estilista pode olhar e disse: isto, não gosto! Vou tira-lo, ok?
Ok! Pensei. Claro que espero que o tire. Afinal, por isso estou aqui, rodeado de estilistas. O cabelo esta demasiado comprido! Bem, talvez seja um ritual. Pude observar que esta estilista me cortou o cabelo da mesma forma que mo cortariam em Sines, em Lisboa, em Estarreja ou em Mahadahonda. Isso sim, dando-me conselhos... de estilista e so com duas tesouras. Por isso devo estar contente. Depois seguiu-se o ritual do shampô que deveria usar, do preço que compensaria ( 15 euros) e do bonito que estava esse corte feito por quem me oferecia desinteressada observação.
Assim, senhor leitor, mais do que dar-lhe conselhos de filosofo suburbano, aproveito estes momentos em que se encontra debruçado neste blogue para pedir-lhe que me deixa a morada de algum cabeleireiro menos estilista e mais atento ao que lhe pedem e que não corte o cabelo da mesma maneira a todos os que procuram o insustentavel estilo do Ser.
Tenha um excelente dia ou uma excelente noite, se for o caso.
No Hexagono com acento agudo.

1 commentaire:

Fada da felicidade a dit…

nem parece uma coisa do hexagono