26 juin 2006

Cronicas do Viajante Amargurado - Coiffeur A


Dentro da rotina de um viajante amargurado inclui-se, claro esta, o lavar os dentes, o escolher roupinha e, entre outras tarefas, o cortar o cabelinho. Façam o favor de imaginar o resto, porque agora não tenho tempo para escrever o obvio ( as compras, a luz, o gas, seroxat, a insustentavel leveza do Ser, O Raio Azul ou os Três Tristes Tigres, sim)
Passa-se qualquer coisa de estranho com o meu terreno capilar. Tão surreal que nem preciso de exgerar para tornar esta cronica mais épicée (cheia de galicismos como fazia Eça de Queiroz, ah ah, ah, ah!). Sempre achei que tenho umas bochechas de tamanho familiar. A minha cara não é feia de todo, mas quando as pessoas me vêm pela primeira vez, tenho a sensação que indagam acerca do tipo de rosca de natal introduzida em cada uma das minhas “maçãs do rosto”. Isso das maçãs... Adoro essa expressão. Mas qui pra nos, senhor leitor, alguns dos homens ou mulheres da nossa praça deveriam chamar-lhes “aboboras do rosto”.
Seguindo pelo fio da meada, sempre utilizei técnicas para esconder ditas aboboras. Cabelo à tijela estilo escuteiro do Kansas versão morena durante os anos oitenta, risco ao meio borbulhento-adolescente-depre nos anos noventa, e, na segunda metade da mesma década, um cabelo liso e enorme, que, acompanhado com brutas dietas espartanas, me deu um ar de priminho da Pocahontas. Um professor de antropologia politica pensava que era um estudante de intercâmbio sul-americano e tentou falar comigo em espanhol, nessa bela Avenida de Berna, 26-C. Um dia, saindo do Instituto alemão, ia despenteado e irritado com o funcionario da secretaria. Um senhor sadico que, para além de desarranjar a vida de terceiros, também inscreve as pessoas nos cursos de alemão. Olho para mim naquela porta do autocarro laranja e digo: é hoje!
Cortei o cabelo e passado meses até tinha uma vida afectiva razoavel. Foram os loucos 98-2000, em que tudo valia a pena. A Expo, a economia, o meu gato novo, a Lucia Moniz... Quando fui ao senhor Jorge cortar o cabelo pela segunda vez, parece que se esquecera da obra prima que me fizera tão somente ha uns três meses atras. Em suma, passei de um cabelo espectacular e pomposo, a ter... um corte de cabelo. E assim foi. Até hoje so tenho direito a “cortes de cabelo” para equilibrar essas maçãs que vejo aboboras.Lembrei-me de tudo isto hoje. Fui cortar o cabelo às 16:00. E ja tenho um “corte de cabelo”. Estive para perguntar se poderiam cortar-me um pouco as aboboras. Mas como não sei dizer a palavra “aboboras” em francês, fiquei calado.
No Hexagono com acento agudo.

1 commentaire:

Fada da felicidade a dit…

nem parece uma coisa do hexagono