08 juin 2006

Cronicas do Viajante Amargurado - Aeroplano A

Existem muitas pessoas com vontade de escrever. Se é verdade que nem todos chegaremos ao prémio literario, também me parece certo que alguns de nos temos a sorte ou o azar de viver situaçoes unicas. Pela sua contextualizaçao e pelo efeito que nos provocam, merecem ser plasmadas num papel, ou, como é o caso, na blogosfera. Acontecem-me muitas coisas dessas. Talvez seja a minha impaciência, talvez seja uma coincidência. Mas certas coisas têm de ser partilhadas. Como esta.
Deixo-vos com este relato breve, louco, mas real. Uma cronica acerca de um voo entre as ciades de Madrid e Paris. Um simples voo de uma hora e meia que se transformou num flagrante da vida real, ao bom estilo Selections do Riders Digest.


São três e meia em Madrid. Decido apanhar o autocarro que me leva até ao novo terminal do aeroporto de Barajas, que pela sua extensão e localização, impoe aos viajantes um prévio conhecimento dos seus... meandros. Assim, ainda que o meu voo esteja marcado para as 6:35, e como a minha simpatica companhia low cost me avisa que terei de fazer o check in no minimo 40 minutos antes da hora marcada, decido ir três horas antes para dito local. A viagem corre bem até que decido sair no Terminal três, pensando que era o o Terminal quatro. Depois de vaguear com duas malas por halls, locais de check in, partidas e chegadas, decido voltar à porta de entrada do terminal. Boa decisão. Encontro uma plaquinha discreta, mas eficaz, que me anuncia que para chegar ao terminal 4 é preciso apanhar... o expresso interno de barajas. Tudo bem. Ja a transpirar, la vou eu. Um terminal impressionante. Vidro, muito vidro, muito ar fresco (viva o ar condicionado na meseta espanhola a partir de Abril) e muita loja. Passeio um pouco, faço o check in e sento-me a ler. A porta (indicada) é a K80 e até dispomos de um calculo temporal das distâncias. No meu caso, entre o controlo de segurança e a dita K80 ha cerca... de 15 minutos. Como me apetece andar por ai, volto para a porta dez minutos antes. Mas a hospedeira de terra, numa coincidência gritantee feliz , anuncia, no momento em que me aproximo, que o avião saira pela porta H07 e que esta se situa... no extremo OPOSTO do terminal 4. Lindo. Correria desatada, mala que salta, turista que encalha, maquina de fotografar que cai. Mala que pesa, nervos que gritam. Finalizada a maratona ao largo do T4, eis que chego à porta H07.
Sento-me e tento recuperar o fôlego, mas estranho o facto de que sejam 6 e meia passadas e que ninguém nos anuncie o check in. Passados dez minutos, goteiam as primeiras perguntas.
Passageiro espanhol e hospedeira de terra:
- Perdon, pero porqué no nos llaman?
- Ahora mismo, señor, ahora mismo.
- Vale, pero es que faltan cinco minutos para que partamos.
- No se preocupe. Ahora mismo llegara el avion.
Estava enganada,a señorita. Ou, pelo menos, enganou-nos a todos. Fê-lo pelo menos umas seis vezes entre as seis e meia e as nove e meia da noite de ontem.
6:50. Começam por anunciarnos 45 minutos de espera. Aparentemente, ha um problema grave com o avião da companhia aérea. O aparelho seria substituido por outro de uma companhia amiga, cuja existência era até então desconhecida para muitos dos passageiros e cujo nome lembra o de uma seita do Kansas. Enfim. Passados os 45 minutos, anunciam-nos mais uma horita de espera. E eis que se levanta a primeira tensão passageira espanhola versus jovem empregado de empresa flexivel.
- A ver, quiero saber a qué horas nos llevan de aquí!!
- Señora, que se lo intento explicar, pero usted no me deja hablar!
Assembleia peral de passageiros do voo V692 para Charles de Gaulle. Atacamos em grupo e em direcçoes distintas. Eles ripostam com eficacia. Gritamos. Eles gritam. Os franceses, sempre freudianamente mais controlados, aconselham a que baixemos o tom. O supervisor dos assistente de terra chega ao local. Jovem e com o cabelo à Beckham, afirma seguro que a situação esta sob control e que não nos preocupemos. Cruza depois os braços e olha para a senhora lider dos protestos com alguma condescendência.
Duas horas passam. Os passageiros perdem a calma de vez em quando. Não se forma mais nenhuma tempestade, apenas alguns dialogos mais ou menos enérgicos com o senhor Supervisor. Suponho que seria das primeiras supervisões que fez. De braços cruzados. Exalava experiência.
- Mentiroso. Que eres un mentiroso. No me mientas. Tu no me mientas!!!
- A ver señora: que le digo que se ha pinchado una rueda al avión de sustitución. Que quiere que le haga? Si no le lo cree, problema suyo. Yo hago lo que puedo!!!

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