
Seria uma autêntica fusão cliché-lapalissade começar este novo episodio sobre a vida do viajante amargurado fazendo referência ao facto de que a França, ainda é, senhor leitor, o pais dos Droits de l’Homme. Mas, uma vez postos no tema, aproveitamos para lembrar-lhe que este é também o pais da Revolução. Como deve saber, os momentos de corte radical consequentes do processo revolucionario, podem dar lugar a grandes periodos de desequilibrio. Um bom exemplo foi la grande peur, periodo que domina ainda os meandros da administração francesa. Nesse territorio influenciado pela tirania da burocracia, quem tem a secretaria à cintura, tem a lei. A lei e a ordem são feitas pela... lei e pela ordem. O mais aterrorizador é que esse marco de legalidade que nos espetam na cara a cada queixa que vamos fazendo, constitui pau para toda a colher das aberrações de cariz administrativo!
Lembro-me quando, ha um ano e uns dias, fui pela primeira vez ao Instituto Francês de Imprensa, matricular-me numa pos-graduação para a qual tinha enviado um pedido de admissão. O nome sonante, a universidade à qual pertence o instituto tida como “de prestige”. Tudo para ganhar. Primeiro contacto com a administração:
- Mais qu’est ce que vous voulez?
-Euh, ben... je suis venu m’inscrire...
- Ah bon ? C’ est pas le bon jour.
Olho para o horario e peço perdão ao consulado de Portugal por ter criticado a sua falta de eficiência. Segunda, aberto das nove às onze, terça, das 13 à 17, quarta, FECHADA TODO O DIA, quinta, aberto das 14 às 17 e sexta, das nove às 13. Para além de um excelente exercicio de matematica ( so lhe faltam equações ), é um horario digno de uma comédia italiana. Mas não, senhor leitor. Trata-se de uma escola de comunicação e jornalismo pertencente a uma das tidas como “boas” ( seja la o que isso for) universidades da cidade luz. Administração 1, Hexagonista 0.
Segundo tiro: resposta curta. Mais qu’est ce que vous faites la tous les jours? Desespero. Eu venho inscrever-me, sabe? Matricular-me! Entrar para a faculdade!!! Ele não percebeu a parte do entrer, porque parece que em francês isso não se diz e eu tenho de adaptar-me a estas pessoas, custe o que custar. Às pessoas posso adaptar-me bem. Ao aparelho administrativo é que ja não sei. Depois de ( tentar ) fazer a matricula, chegou o momento de escolher o seguro de saude. O senhor encarregado de matricular os estudantes não sabia como escolher o seguro, que companhia era melhor e qual deveria escolher um estrangeiro. Achei estranho, tendo em conta que era um dos pilares do seu trabalho na secretaria ( a existência de alunos para inscrever e gerir as suas necessidades de acordo com os recursos presentes ). Estranho também que desconhecesse todos e cada um dos pontos do papel de matricula. Como não tinha uma carte bleue ( versão visa da excepção cultural ) fui ameaçado com uma suspensão de matricula. Aparentemente, a secretaria, ou melhor, o canto de sala com dois armarios de metal e dois tipos na cavaqueira de porta fechada todo o dia, era demasiado moderna para que fossem efectuados pagamentos en espèce. Espècie de gente estranha, é o que eu lhe digo.
Mas a historia continua, durante mais nove meses. Desse parto saiu um diploma. Sufrido. Trabalhado. Mas por mais que se esforce um para pensar que aprendeu muito naqueles anfiteatros, a verdade é que as grandes lições do ensino superior francês se dão naquels tuneis de clausulas, de codigos, de papéis. De horarios sadicos. De gente que nunca os cumpriu. Quando recebi o diploma pereceu-me ler uma clausula pequenina, na parte de tras, que me explicava que parte da minha alma faria parte dos arquivos do instituto. Fui administrado.
Lembro-me quando, ha um ano e uns dias, fui pela primeira vez ao Instituto Francês de Imprensa, matricular-me numa pos-graduação para a qual tinha enviado um pedido de admissão. O nome sonante, a universidade à qual pertence o instituto tida como “de prestige”. Tudo para ganhar. Primeiro contacto com a administração:
- Mais qu’est ce que vous voulez?
-Euh, ben... je suis venu m’inscrire...
- Ah bon ? C’ est pas le bon jour.
Olho para o horario e peço perdão ao consulado de Portugal por ter criticado a sua falta de eficiência. Segunda, aberto das nove às onze, terça, das 13 à 17, quarta, FECHADA TODO O DIA, quinta, aberto das 14 às 17 e sexta, das nove às 13. Para além de um excelente exercicio de matematica ( so lhe faltam equações ), é um horario digno de uma comédia italiana. Mas não, senhor leitor. Trata-se de uma escola de comunicação e jornalismo pertencente a uma das tidas como “boas” ( seja la o que isso for) universidades da cidade luz. Administração 1, Hexagonista 0.
Segundo tiro: resposta curta. Mais qu’est ce que vous faites la tous les jours? Desespero. Eu venho inscrever-me, sabe? Matricular-me! Entrar para a faculdade!!! Ele não percebeu a parte do entrer, porque parece que em francês isso não se diz e eu tenho de adaptar-me a estas pessoas, custe o que custar. Às pessoas posso adaptar-me bem. Ao aparelho administrativo é que ja não sei. Depois de ( tentar ) fazer a matricula, chegou o momento de escolher o seguro de saude. O senhor encarregado de matricular os estudantes não sabia como escolher o seguro, que companhia era melhor e qual deveria escolher um estrangeiro. Achei estranho, tendo em conta que era um dos pilares do seu trabalho na secretaria ( a existência de alunos para inscrever e gerir as suas necessidades de acordo com os recursos presentes ). Estranho também que desconhecesse todos e cada um dos pontos do papel de matricula. Como não tinha uma carte bleue ( versão visa da excepção cultural ) fui ameaçado com uma suspensão de matricula. Aparentemente, a secretaria, ou melhor, o canto de sala com dois armarios de metal e dois tipos na cavaqueira de porta fechada todo o dia, era demasiado moderna para que fossem efectuados pagamentos en espèce. Espècie de gente estranha, é o que eu lhe digo.
Mas a historia continua, durante mais nove meses. Desse parto saiu um diploma. Sufrido. Trabalhado. Mas por mais que se esforce um para pensar que aprendeu muito naqueles anfiteatros, a verdade é que as grandes lições do ensino superior francês se dão naquels tuneis de clausulas, de codigos, de papéis. De horarios sadicos. De gente que nunca os cumpriu. Quando recebi o diploma pereceu-me ler uma clausula pequenina, na parte de tras, que me explicava que parte da minha alma faria parte dos arquivos do instituto. Fui administrado.
No Hexagono da prosa.
1 commentaire:
:) eheh
vá, fica lá com o diploma e cala-te!...
(kiding...)
boa prosa
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