04 novembre 2006

Cronicas do Viajante Amargurado - Quatro meses.

Tenho no meu trabalho uma amiga turca que vive em Paris ha uns anos e em França ha mais de cinco. Como ja nos conheciamos antes deste estagio, foi facil marcarmos encontros e rirmos juntos. Podemos, além disso, partilhar o nosso espanto respeito das saidas de um terceiro colega ao qual prefiro chamar Jean-Pierre. Oriundo da zona de Lyon, veio para a capital com o objectivo de fazer um Mestrado profissional em Comunicação. Assim, como nos os dois, o Jean-Pierre deveria exalar uma certa alegria de viver, contente por estudar e poder por em practica os seus conhecimentos, por exemplo. Mas não.
O nosso colega gosta de falar sozinho. Tal não constituiria problema algum se as suas conversas não fossem basicamente queixumes em surdina ou expressões de desagrado constante. Assim, enquantro escrevemos nos nossos teclados, preparando um texto para ser incluido no nosso sitio web, ouvimos mais do que umas três vezes cada dez minutos: “putain, ça fait chier, putain”. Assim, imaginem a vossa cabecinha a pensar “Então... depois da entrevista... foi para a sala de im- PUTAIN/FAIT/CHIER/PUTAIN – hã? Ah!... sim... sala de imprensa... saiu – OH ZUT MERDE ZUT – ooops.... ja me esqueci outra vez!
Desra maneira corre o meu pensamento ao longo das tardes. A coisa agrava-se, se tivermos em conta que se trata de uma empresa pequena, com poucos empregados e com pouco espaço fisico. Assim, não temos hipotese de fugir. O pior de Jean-Pierre nem é a tristieza ( apesar de ser o que domina ), mas sim a alegria. Esta traduz-se num assobiar estridente seguido a toda e qualquer acção levada a cabo com sucesso. Um enérgico bater de palmas costuma acompanhar o prévio assobio, constituindo um mimo para a cabeça cansada de quem se encontra ao lado. As horas santas? Pausa para o cigarro. Ah, porque o Jean Pierre é um fumador nato! Noutro dia perguntou-me:
-Não fumas?
-Não. – respondi com um sorriso sem grandes segundas intenções.
-Ah. – não sei que queria dizer o Ah, mas o olhar foi como se eu fosse protestante numa freguesia de Braga.
Noutro dia, como acontece muitas vezes, tivemos de catalogar formatos de video que chegavam à agência, para pô-los depois à disposição dos clientes. Quando a Gwinnet Paltrow esteve em Madrid para filmar não sei quê, teve alguma dificuldade em sair do aeroporto de Barajas. Queriam a todo o custo, fimar a sua filha, que da pelo nome de Maçã. O interessante foi, quando uma senhora espanhola se pôs a barafustar porque tinham deixado a estrela de cinema passar à sua frente. Jean-Pierre decidiu ( porque a senhora falava espanhol e ele não poderia entende-la ) que se tratava da acessora de imprensa de Gwinnet!
- Sim, sim, porque eu ja a vi antes noutros videos com a Gwinnet Paltrow! Resta-me dizer que a senhora em causa gritava em espanhol “Olhe, nos aqui somos todos iguais!”. Além disso, tinha um passaporte espanhol na mão. Jean Pierre insistiu e esperei que saisse para tirar do texto a observação acerca da suposta “acessora de imprensa que acompanhava a actriz”. Este estagio vai durar quatro meses. Quatro longos meses.
No Hexagono.

3 commentaires:

Anonyme a dit…

Posso perguntar? É uma agência de quê exactamente?

Anonyme a dit…

Ossos do oficio!! ;) Com humor e boa disposição isso passam a ser fait divers. Bom trabalho!

intruso a dit…

..."coisas" do trabalho...

estágio de 4 meses...

G.Paltrow :)


abraço